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 Tratamento das Demências

O tratamento atual das demências não é curativo, não conseguindo devolver aos pacientes as competências cognitivas prévias ao início da deterioração cognitiva. No entanto os fármacos anti demenciais (inibidores das colinesterases ou antagonistas dos recetores NMDA) conseguem atrasar o curso da doença, melhorando função cognitiva, alterações comportamentais e a funcionalidade nas atividades de vida diárias. Em situações de alterações psicológicas e comportamentais, que ocorrem com a evolução da deterioração cognitiva, o psiquiatra recorre frequentemente a psicofármacos de diferentes classes (antidepressivos, ansiolíticos, indutores de sono, antipsicóticos e antiepiléticos), medicando o menos possível, em dose e em duração. Para além das intervenções farmacológicas, o psiquiatra também disponibiliza intervenções não farmacológicas, nomeadamente a Estimulação/Reabilitação cognitiva, a Psicoterapia/apoio psicológico a pacientes e familiares e a Psicoeducação a familiares para redução de burden / sobrecarga emocional do Cuidador.


A Estimulação/Reabilitação Cognitiva é uma intervenção estruturada realizada por neuropsicólogos, prescrita por médico psiquiatra ou neurologista, direcionada para pacientes com Déficit Cognitivo Ligeiro ou para Síndromes Demenciais (Demência de Alzheimer, Demência Vascular, Demência Mista, Demência Fronto-Temporal , Demência de Corpos de Lewy ou outras).


No Deficit Cognitivo Ligeiro o paciente tem alterações da memória, da aprendizagem, da orientação ou da planificação, mas mantêm a sua capacidade funcional nas atividades de vida diárias (higiene pessoal, condução, gestão doméstica e financeira). Esta situação clínica, embora determine sofrimento psicológico e desconforto, raramente evolui para demência (somente 10% dos DCL evoluem ao ano para demência). Há benefício em estimular as áreas em défice e as áreas integras de forma a manter uma performance cognitiva adequada.


Nas demências, de Alzheimer ou outras, o paciente evolui com deterioração cognitiva que determina alterações das atividades de vida diárias, levando a uma dependência crescente pelos familiares, inicialmente em tarefas mais complexas (gestão de dinheiro, planificação doméstica, condução), e mais tarde mesmo nas atividades mais básicas (vestir-se, higiene pessoal, orientar-se espacialmente).


À medida que a demência agrava o paciente frequentemente apresenta alterações psicológicas (depressão, ansiedade, hostilidade, desconfiança, delírios ou alucinações) ou comportamentais (deambulação, inquietação, gritos, oposicionismo, agressividade, controle obsessivo dos cuidadores, ciúme, desinibição sexual, negligência de cuidados pessoais), que determinam crescente constrangimento, angústia e desconforto, especialmente dos familiares.


Algumas patologias neurológicas focais (traumatismos cranianos, acidentes vasculares cerebrais, tumores, etc) com alterações cognitivas restritas, mas mesmo assim determinantes de alteração funcional, também podem beneficiar da Estimulação/Reabilitação Cognitiva.


Para além de intervenção farmacológica por médico psiquiatra ou neurologista, estes pacientes podem beneficiar de intervenções não farmacológicas, bem fundamentadas cientificamente, que estabilizam ou atrasam a evolução das dificuldades cognitivas e dos sintomas comportamentais e psicológicos destes pacientes. Estas intervenções não farmacológicas podem ser aplicadas em todos os estádios da patologia, permitindo a potencialização ou mesmo a redução da prescrição de psicofármacos. Controlando a psicopatologia dos pacientes, atua-se também na saúde mental dos familiares e cuidadores
(mais de 50% dos familiares de doentes com demência têm depressão ou ansiedade disfuncional, provocadas pela sobrecarga emocional da difícil tarefa de cuidar).


Após uma avaliação clínica pelo médico assistente, e de  eventual avaliação neuropsicológica por neuropsicólogo (para identificar grau e funções cognitivas alteradas), em alguns casos estrutura-se um plano de estimulação/reabilitação cognitiva e de modelação comportamental adaptado aos déficits e às potencialidades de cada paciente. Cada programa de intervenção é adaptado às necessidades de cada paciente e às limitações identificadas pelos familiares.


Este programa é precedido de uma avaliação neuropsicológica, baseada numa bateria de testes psicométricos que determinam, de forma qualitativa e quantitativa, os défices de várias áreas de funcionamento cognitivo (memórias, raciocínio, atenção, orientação, afasias, apraxias, agnosias, planificação, capacidade visuo-espacial, juízo crítico, etc.). Nesta avaliação neuropsicológica são também avaliadas alterações emocionais, limitação nas atividades diárias e o histórico sócio-profissional, que condicionam a elaboração do programa de reabilitação/estimulação cognitiva.


O programa de estimulação/reabilitação cognitiva tenta estimular áreas em déficit ou, utilizando o potencial de plasticidade cerebral, utilizar domínios cognitivos de compensação ao déficit. O objetivo é aumentar ou preservar a funcionalidade do paciente, melhorando a sua vivência de controle e desta forma a sua qualidade de vida.


Dado a elevada prevalência de sofrimento emocional junto de familiares e cuidadores, apelidado de burden dos cuidadores, o psiquiatra pode disponibilizar sessões de Psicoeducação para Familiares (ceder informação sobre doença, promover estratégias de interação, manejar dificuldades psicológicas).


Nos programas de Estimulação Cognitiva utilizam-se metodologias diversas: técnicas de lápis e papel de estimulação/reabilitação cognitiva, recurso a software informático, terapia da validação (em que valida-se o comportamento do paciente com empatia), terapia de orientação da realidade (em que sistematicamente reorienta-se o paciente espacial, temporal, auto e alopsiquicamente), terapia da reminiscência (em que estimula-se o paciente recorrendo a objetos e experiências associadas a memórias remotas), técnicas de relaxação, consciencialização corporal e de reeducação gnoso-práxica, e ainda atividades lúdicas e expressivas aplicadas à reabilitação. Valoriza-se também a vinculação terapêutica, fundamentada numa relação empática e estruturante, como ferramenta de trabalho.


Também é valorizada a articulação com os familiares dos doentes ou com outros cuidadores formais que investem tempo nos pacientes (auxiliares de ação médica de lares, apoio domiciliário ou de centros de dia, empregadas, outros técnicos de saúde, etc.).
 

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